Atenção à fadiga no trânsito

22/06/2022 às 2:30 pm

O título dessa matéria é um alerta para uma das maiores causas de tragédias nas vias de circulação em todo o mundo e que atinge, principalmente, veículos pesados de transporte de cargas e passageiros.

Antes de apontar soluções que previnam efetivamente acidentes dessa natureza, é preciso mostrar que o problema é complexo e global. Não podemos mais aceitar sinistros causados por fadiga ou sono e nem que essa prática de exceder os limites da capacidade do condutor seja estimulada em nome da competitividade e, tampouco, tolerada pela sociedade. Há conhecimento e tecnologia para banirmos esses tristes episódios, causados, na maioria das vezes, por imprudência e certa ignorância das consequências. Nos Estados Unidos, por exemplo, de acordo com recentes estudos da NHTSA – The National Highway Traffic Safety Administration – mais de 1.500 pessoas morrem todos os anos por esses motivos, gerando perdas financeiras da ordem estimada em U$ 62 bilhões anualmente. Já nas estradas brasileiras, de acordo com um estudo da ONU realizado antes da pandemia, as mortes causadas por cansaço nos posicionam como o 5º país onde as pessoas mais morrem no trânsito, atrás de Índia, China, EUA e Rússia. Outro estudo, realizado pela Associação Brasileira de Medicina de Tráfego, os dados apontam que 42% dos acidentes estão relacionados ao sono e 18% por fadiga. Somados, impressionantes 62% do drama que vivenciamos nas pistas brasileiras poderiam ser evitados, se adotássemos a prevenção e a tecnologia disponível como padrão de atuação. É preciso entender as causas, preveni-las e mitigá-las com absoluta seriedade. São inúmeros os motivos que podem causar a fadiga, desde questões emocionais que se transformam em quadros de estresse, ansiedade ou depressão, fatores patológicos como a síndrome da fadiga crônica, anemia, câncer, insuficiência hepática e muitas outras doenças. Há ainda questões que envolvem alimentação pouco saudável, o consumo de álcool, o uso de drogas psicoativas proibidas e o uso indiscriminado de certos medicamentos legais como anti-histamínicos e antidepressivos. Todos esses são pontos que se referem às condições físicas e psicológicas do condutor e que devem sempre ser acompanhados. Aliás, entra aí a responsabilidade do empresariado, das plataformas de transporte de passageiros, dos donos de transportadoras, das empresas de ônibus e até dos embarcadores e proprietários das cargas. Motoristas precisam contar com acompanhamento profissional e jamais, serem forçados ou incentivados a cumprirem elevadas cargas horárias, algo que, infelizmente, é corriqueiro no Brasil. Estar descansado e com domínio pleno dos sentidos precisa ser encarado como algo compulsório para quem vai assumir a direção veicular. Prevenir é essencial, e estar alerta para os sinais clássicos –  bocejos, aumento do piscar de olhos, pequenas desviadas de faixa, dificuldade de lembrar os últimos quilômetros percorridos, dificuldade em manter a velocidade adequada – faz toda a diferença entre uma viagem segura e uma tragédia.

Europa e o Brasil – Com esse foco, o Velho Continente está impondo a obrigatoriedade para que as montadoras produzam seus veículos equipados com um sensor que detecta fadiga ou distrações dos motoristas. Na Europa, 90% dos sinistros são causados por erros humanos e as novas tecnologias são essenciais para mitigar esse desafio. No Brasil, desde 2016, lei federal que regulamentou o transporte de carga e passageiros passou a exigir do motorista profissional o exame toxicológico de larga janela preventivo para a emissão ou renovação da habilitação. Já temos equipamentos sofisticados, capacidade instalada e conhecimento profundo das causas e da forma de prevenir a associação entre direção e o excesso de jornada ou a fadiga do condutor. É preciso empenho decisivo das autoridades, como tem feito a União Europeia, com normas, campanhas de mobilização social e efetiva fiscalização para mudar essa cultura equivocada e quebrar um paradigma nocivo que privilegia a concorrência em detrimento da segurança e da proteção da vida. A sociedade hoje já entende que conduzir cansado, bêbado ou drogado é algo totalmente irresponsável e absolutamente inaceitável.

Fonte: Artigo de Sidnei Canhedo no Portal SEGS e Redação Trânsito Livre.

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