Cansaço mata nas estradas
Confira a entrevista exclusiva de Darcio Centoducato, Diretor da Pamcary, maior gerenciadora de riscos da América Latina.
Trânsito Livre – De acordo com levantamento divulgado pela Pamcary, acidentes causam mais prejuízos do que roubos, tanto nas Rodovias Federais quanto nas Estaduais. Como as novas tecnologias de segurança e prevenção podem atuar na redução desses dois índices?
Darcio Centoducato – Para resolver qualquer problema é preciso primeiro conhecer suas causas. No caso dos acidentes com veículos de carga, os principais vilões são a fadiga e velocidade incompatível nas curvas! Para lidar com a fadiga gerada pelas jornadas excessivas de direção, infelizmente alguns motoristas fazem uso de substâncias químicas na tentativa de manterem seu nível de alerta. O efeito é justamente o oposto e quando uma reta termina numa curva, o resultado é o tombamento ou capotagem. Assim, quando a tecnologia é aplicada na seleção e acompanhamento do comportamento do motorista, segundo uma política que incentive a direção segura, pode fazer toda a diferença. Aqui, quando falamos em tecnologia, não nos referimos apenas àquelas que permitem medir o grau de agressividade com que o motorista dirige, bem como o tempo de direção e descanso. Estamos saudando também o exame toxicológico de larga janela, que vai identificar aqueles profissionais que precisam de ajuda se quiserem exercer esta profissão de risco.
T.L. – Segundo dados do Ministério do Trabalho, a profissão de motorista de caminhão é a mais mortal do país, seguida de motorista de ônibus rodoviário. Quais são as razões dessa vulnerabilidade laboral?
D.C. – Em especial o motorista autônomo tem o seu salário inteiramente “variável” (quanto mais viagens, maior sua receita). As viagens mais distantes, para as quais a transportadora não tem a “carga de retorno” é oferecida a este tipo de profissional. A fadiga é muito maior, criando maior atrativo a substâncias tóxicas para mantê-lo acordado. Veículos mais velhos… Combine todos estes fatores e tornamos o motorista de caminhão a maior vítima dos acidentes rodoviários e campeão entre as profissões mais perigosas do Brasil.
T.L. – No cenário dos clientes Pamcary, os acidentes de maior frequência e gravidade nas estradas são tombamentos e capotagens. O que essas duas categorias têm em comum?
D.C. – Estes tipos de evento são muito semelhantes, a capotagem é um tombamento mais 90º. E o que faz um veículo tombar? Provavelmente vai se lembrar da forca centrípeta (se pensou em na centrifuga, os físicos dizem que ela é a reação da centrípeta). Lembra-se da fórmula?
Esta força depende diretamente da massa, inversamente do raio da curva (quanto mais fechada, maior) e exponencialmente da velocidade nesta curva. Mas o que tem as drogas a ver com esta fórmula? Bem, imagine um motorista sob efeito de drogas, entrando numa curva em alta velocidade, sem o pleno domínio de suas faculdades perceptivas?
T.L. – De acordo com dados do programa de Gestão de Riscos da Pamcary, algumas empresas, como a Unilever, tem conseguido diminuir a frequência de acidentes em suas frotas, com adoção de determinadas ações. Como conciliar alto desempenho logístico e segurança nas estradas?
D.C. – Será que o aumento da produtividade da frota com adoção de modelos de alto desempenho no transporte acarreta aumento dos acidentes? Tenho observado na prática que é exatamente o oposto que acontece. Motoristas conscientes e treinados a enfrentar os riscos de uma determinada rota, tendo seu comportamento e pontualidade medidos e gerenciados em tempo real por uma central e, principalmente, se forem recompensados com base nesses indicadores, estão 3 vezes menos propensos a se envolverem em acidente, conforme observados nos programas de prevenção de acidentes que a Pamcary tem implementado nos últimos 10 anos. Ou seja, se houver uma política clara e sustentável da indústria, que influencie transportadoras e seus motoristas a dirigir dentro de prazos adequados, possibilitando o devido descanso a eles, teremos condições melhores condições de reduzir as mortes no TRC e ainda assim, evitar perdas!