Conexão entre carros, cidades e pessoas chega em 2 anos

15/01/2019 às 1:19 pm

Publicado em Auto Esporte

Pode-se dizer que a CES, maior feira de eletrônicos de consumo, encerrada semana passada em Las Vegas, é uma grande praça para onde convergem tecnologias em diferentes fases de desenvolvimento. E os automóveis ampliaram seu espaço no evento, embarcando novidades próprias e as criadas por empresas parceiras e fornecedores. De lá os carros saem mais seguros, eficientes e “inteligentes”. Muitos deles, sem motorista.

“É uma abordagem muito diferente desde o modo de planejar, que estamos fazendo com foco na experiência do consumidor para realmente pensar sobre o que ele está procurando. Focado no cliente e não no motorista, que não existe mais”, diz Sherif Marakby, CEO da divisão de veículos autônomos da Ford.

A montadora mantém cerca de 50 veículos autônomos em Miami, cidade que oferece infraestrutura para os testes, como sinalização adequada. “Até o fim deste ano, teremos mais de 100 a 150 carros rodando. Também estamos trabalhando em Washington DC, desenvolvendo o mapeamento, e vamos anunciar mais cidades no futuro”, afirma Marakby.

Ford planeja lançar seus autônomos comercialmente em 2021. Mas há meses, por meio de parcerias com empresas como Domino’s, Wallmart e Postmates, pessoas encomendam pizzas, flores, artigos para animais de estimação e outros produtos. Podem acompanhar a viagem pelo celular e, quando o carro chega, inserem um código para ter acesso à encomenda.

Os veículos em teste são do nível 4 de autonomia e não são de propriedade pessoal, mas um serviço, lembra Marakby. Ainda há muitos desafios à frente. Após mais de 130 anos fazendo carros pensando no motorista, o desafio é projetar a partir do design para receber as pessoas, “dando boas-vindas quando elas entram no veículo, rodando confortavelmente e que permitam ao cliente poder fazer o que quiser, seja conectado no seu dispositivo ou ao do próprio veículo, que não tem volante nem motorista”, prevê o executivo.

“O software e a autonomia em si, que vão substituir o cérebro e os olhos do motorista, são das coisas mais complexas e é isso que a Argo AI está fazendo para nós. O segundo requisito de tecnologia são todos os sensores, e há coisas que ainda não estão prontas. Quando se pensa em rodar em todos os ambientes, como neve, chuva forte, altas velocidades, são desafios que estão sendo enfrentados. Estou muito confortável que a indústria vai chegar lá, porque é a mesma coisa enfrentada com os airbags, os cintos de segurança e as tecnologias de assistência ao motorista”, afirma Marakby.

O executivo lembra ainda uma etapa que, segundo ele, a indústria automobilística “sabe como fazer, mas ainda não fez”: a redundância. “Se você olhar para os aviões, há muita redundância que ainda não existe no setor automotivo, em direção, frenagem, aceleração. Coisas que estão sendo projetadas também, com foco na segurança”, diz.

Ainda durante a CES, a Ford anunciou que a partir de 2022 vai oferecer a tecnologia C-V2X para todos os seus veículos novos nos EUA. O recurso permite que carros, utilitários e caminhões possam se comunicar com outros veículos, sinais de trânsito e pedestres via celular. A C-V2X foi desenvolvida durante o último ano em parceria com a empresa de telecomunicações Qualcomm.

O sistema dispensa a rede celular e permite a conexão direta entre os aparelhos, apoiando-se ainda nos sensores, radares e câmeras dos próprios veículos em circulação. Don Butler, diretor executivo de Veículos Conectados da Ford, prevê que o recurso atinja seu ideal com a difusão da tecnologia 5G, mas já funciona bem com o 4G atual. Isso pôde ser comprovado por simulação montada pela Ford em um pátio de estacionamento vazio em Las Vegas.

Havia três veículos na simulação, que pôde ser acompanhada de fora e de dentro pelos jornalistas, um Audi Q5, uma F-150 e uma Ducati. Em um cruzamento, a C-V2X foi capaz de identificar qual veículo tinha a preferência para avançar, por ter chegado antes ao Pare. Em outro ensaio mais significativo, o motorista da picape é alertado quando a moto avança pelo cruzamento, e para. A garantia de segurança se estende também a uma  pessoa a pé que tenha um celular carregado: “Um pedestre pode ser localizado pelos veículos, mesmo se estiver fora do campo de visão”, afirma Don Butler.

Em três anos, nos cálculos da Ford, autônomos e conectados estarão nas ruas. As pessoas vão gostar disso? Sherif Marakby acredita que sim: “Uma das coisas que aprendemos é ter microfones nos veículos autônomos para eles poderem falar com o cliente. Eles querem agradecer o veículo e gostam do fato de não terem de dar gorjeta, já que não há motorista”, diz o executivo.

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