Jovens cada vez menos interessados na CNH

27/07/2020 às 10:59 am

O número de carteiras de habilitação válidas no Brasil cresceu 38% na última década, saltando de 53,9 milhões de CNHs em 2011 para 74,3 milhões em 2020, segundo os dados do governo. Um índice bem superior ao crescimento populacional do país que foi de 10% no período. Especialistas apontam que a alta no número de motoristas pode ter se dado, no começo da década, pela bonança econômica e por medidas de incentivo ao setor automotivo, entre elas a redução do IPI (imposto sobre produtos industrializados) aplicados nas vendas de veículos. O número de habilitações crescia mais de 5% ao ano até 2014. A partir de 2015, quando o país entrou em recessão econômica, esse aumento se desacelerou. Entre 2018 e 2019, o crescimento foi de apenas 2,9%.

Nos 10 anos de levantamento, a proporção de condutores com mais de 61 anos saltou de 11% para 17% no universo de motoristas do país. Ao mesmo tempo, caiu de 29% para 21% a parcela dos motoristas com até 30 anos.

Quando a estudante gaúcha Dora Leonetti fez 18 anos, preferiu gastar o dinheiro da autoescola em uma viagem. Hoje, aos 23, ainda não aprendeu a dirigir. “Não vale a pena, é muito caro tirar carteira e manter um carro. Já fiz a conta e teria que me locomover muito mais do que eu me locomovo para ver vantagem. Passo um pouco de perrengue esperando ônibus, sim, porque o transporte em Porto Alegre não é o ideal, mas não é o suficiente para me fazer querer ter um carro. É só organizar a rotina“, afirma ela, que, além do transporte público, também usa aplicativos como o Uber. A goiana Laura Teixeira, 22, diz que não vê sentido em ter um automóvel agora. “Não tenho vontade nenhuma de me estressar no trânsito“, afirma ela. “Já sofri um acidente, então tenho um pouco de medo. As pessoas parecem que estão mais agressivas. Fico pensando que, se eu buzinar para alguém, o cara pode me dar um tiro”, relata.

Jovens como Dora e Laura têm ocupado um espaço menor no universo de motoristas brasileiros, mostram dados do Departamento Nacional de Trânsito (Denatran), que revelam ainda que os idosos têm dirigido mais. Esse movimento acontece em todas as regiões do Brasil, de acordo com os números do Denatran, e também é identificado por pesquisadores em outros países do mundo. Análise do Instituto Ipsos, realizada com dados da CNH de 2013 e 2019, aponta para algumas hipóteses.

O aumento na longevidade dos idosos no trânsito pode ser decorrente da evolução da indústria com tecnologias assistivas, como câmera de ré, sensor de estacionamento e câmbio automático. Sistemas eletrônicos que facilitam que os mais velhos continuem dirigindo com razoável segurança, segundo a análise do Ipsos.

A mudança de comportamento capitaneada pelos jovens da chamada “geração canguru”, que demoram mais a se emancipar dos pais aliada à praticidade de aplicativos como o Uber e o 99, que baratearam o serviço de táxi, ajudam a explicar o desinteresse dos jovens pela CNH, aponta o instituto. A participação de mulheres entre os motoristas também cresceu na última década. E os especialistas atribuem a uma possível relação com a violência urbana: as mulheres se sentiriam mais seguras dentro do automóvel.

Os dados das CNHs mostram ainda que, mais do que motoristas, há automóveis. No Brasil, são quase 106 milhões de veículos automotores, uma média de 1,4 para cada motorista. Os estados do Piauí e do Maranhão são os com mais automóveis por habitante. Já o Distrito Federal é a unidade federativa com menos carros por motorista –apesar de suas largas avenidas e de ter sido planejada tendo o carro como principal meio de locomoção. Acre, Amapá e São Paulo, o estado mais populoso do país, vêm na sequência, com um número menor de automóveis por condutor.

Fonte: Portal Click RBS

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