Carnaval: novas tecnologias na fiscalização do trânsito

24/02/2017 às 5:44 pm

O carnaval é a maior festa nacional que mobiliza milhões de brasileiros e encanta o mundo inteiro. Entretanto, é também o período em que os acidentes de trânsito causados pela mistura de álcool e outras drogas se multiplicam de maneira assustadora.

Tentando controlar esse fenômeno que tira a alegria de muita gente, o governo de Pernambuco vai reforçar suas ações na Operação Lei Seca. Os 75 bloqueios itinerantes de fiscalização contarão com o apoio de cães para abordagens em coletivos e redutores de velocidade – uma espécie de lombada móvel instalada no início e término dos bloqueios –  que serão testados pela primeira vez. Como garantia, oito motos estarão disponíveis para casos de eventuais fugas de condutores abordados.

Além desses recursos, um novo equipamento para testar se quem está dirigindo consumiu bebida alcoólica será usado. Trata-se do Alcoliser, com tecnologia australiana, que pode detectar a ingestão de álcool da maneira tradicional – soprando pelo bocal do aparelho – ou simplesmente aproximando-o da boca do condutor ao falar. Ainda em fase de teste de homologação no país, ele será utilizada nas blitzen de caráter educativo que ocorrem simultaneamente às abordagens repressivas. Esse novo equipamento que já é utilizado na Europa tem resposta mais rápida (entre 10 e 15 segundos) se comparado ao etilômetro convencional atualmente empregado que registram um tempo médio de um minuto ou 30 segundos em cada abordagem para apresentar resultados.

O Portal ITTS ouviu o economista e empresário pernambucano Luiz Ribeiro, representante no país de muitos produtos de alta tecnologia voltados para a segurança, sobre a ação do governo pernambucano e a situação do país na prevenção e no combate ao consumo de álcool e outras drogas no trânsito:

  • O Brasil é signatário da DÉCADA DE AÇÃO PARA A SEGURANÇA NO TRÂNSITO, que começou em 2011, que prevê a redução em 50% das mortes e dos ferimentos rodoviários em todo o mundo. Apesar desse pacto pela vida, os números do Brasil não param de crescer. Em sua opinião, o que está faltando fazer no famoso tripé EDUCAÇÃO + LEGISLAÇÃO + FISCALIZAÇÃO?

Luiz Ribeiro – temos uma legislação muito boa, mas não temos educação para o trânsito e a fiscalização, na maioria dos estados, é vista pela população – com razão, -como uma maneira de arrecadar os impostos e taxas e não como um fator de proteção social. Os países que possuem os melhores índices de mortes por 100 mil habitantes investem na educação e na prevenção para transformar adolescentes em motoristas responsáveis. Para capturar o interesse desses futuros motoristas, muitos deles a “licença para dirigir graduada” que possibilita que o adolescente que tenha boas notas nas disciplinas ligadas ao trânsito durante o ensino médiol, possa dirigir acompanhado de um motorista habilitado a partir dos 16 anos. Esse é um exemplo que teria muita aderência no Brasil.

 

  • A legislação de trânsito brasileira de repressão ao consumo do álcool por quem dirige foi considerada pela Organização Mundial de Saúde como um exemplo para os países que decidem enfrentar a violência do trânsito. Em 2015, de novo o Brasil passou a ser uma nova referência em prevenção de acidentes ao adotar o exame toxicológico de larga janela dos motoristas profissionais, medida que já se aplica no segmento aéreo e marítimo. Qual sua opinião a respeito?

Luiz Ribeiro – Esses são bons exemplos que o Brasil tem a dar para o mundo. A “lei que salva vidas”, “lei do álcool zero” ou “lei seca”, completa 10 anos em 2018 e quem trabalha com o trânsito bem sabe como ela mudou o paradigma vigente. Antes das operações de fiscalização de alcoolemia não se abordava motoristas para prevenção, com fiscalização randômica, que é o modelo europeu. Nossas policias usavam o modelo americano, com fiscalização seletiva, que apenas aborda o motorista que esteja conduzindo fora dos padrões estabelecidos. A ONU/OMS deu uma grande contribuição quando, em seu manual de fiscalização de alcoolemia no trânsito, sancionou o modelo europeu como o mais eficaz.  Hoje, os estados americanos com os mais baixos índices de mortes no trânsito são os que decidiram adotar o modelo randômico/europeu de fiscalização. Na Europa isso é mandatório porque o cidadão não aceita que seja de outra forma. Esse modelo também possibilita que mais condutores sejam testados ao mesmo tempo, resultando em um grande incremento do número de condutores avaliados. Na Europa, o condutor faz o seu teste de alcoolemia sem descer do veículo. A polícia vale-se de um etiloteste químico descartável (balão) que é usado por cada um dos condutores parados pela fiscalização. Caso esse pré-teste não indique a presença de álcool, o condutor é liberado imediatamente. Caso alguma alcoolemia seja acusada no teste, o motorista é convidado a descer do carro e levado ao etilômetro, onde vai ser medida a quantidade de álcool no seu organismo, bem como testado para outras drogas.

A associação entre álcool e drogas na direção é muito grande. No modelo vigente no Brasil, todos os motoristas têm que descer do carro e entrar numa fila para soprar o etilômetro e leva cerca de 40 minutos para provar que não bebeu antes de dirigir. A exceção é no o estado de São Paulo que adota integralmente o modelo europeu. Os motoristas são parados em lotes de 10 e testados ao mesmo tempo sem descer do seu veículo. Isso é vital para que seja alcançado o percentual recomendado pela Organização Mundial de Saúde de que, pelo menos, 1/3 de todos os condutores de um país sejam testados anualmente. Para quem se assusta com essa meta audaciosa, o estado de Nova Galia do Sul, na Austrália, com uma população de 7,2 milhões de habitantes e 4,9 milhões de condutores habilitados, consegue realizar mais de 5 milhões de testes de alcoolemia anualmente..

A cerca de 1 ano o Brasil deu outro grande salto para o futuro quando instituiu o exame toxicológico de larga janela de detecção para o condutor profissional, garantindo assim que um usuário de drogas ilícitas ou estimulantes psicoativos não consiga habilitação para dirigir profissionalmente. Essa importante medida ainda não foi totalmente compreendida. Mas fica bem fácil de entender quando projetamos que, em 3 anos, o Brasil vai poder dizer ao mundo que todos os motoristas profissionais do Brasil foram testados (o Código de Trânsito prevê renovação dos exames nesse período) e os que estão rodando nas estradas não eram usuários de drogas no momento da sua habilitação. Seremos o único país do mundo a poder dizer isso. E para prevenir que esse motorista durante a vigência de sua habilitação possa se tornar um usuário, outro grande aliado da segurança do trânsito pode entrar em cena, aparelhos que atestam a presença de drogas no momento da abordagem ao condutor pela fiscalização seletiva e eventual.

 

  • Com sua experiência internacional, o que está faltando para que a segurança no trânsito – que evita tanta tragédias e custos astronômicos – passe a ser prioridade em nosso país?

Luiz Ribeiro – O compromisso do mais alto mandatário em todos a esferas de poder e governo. Presidente, governadores e prefeitos. Esse compromisso, segundo a OMS, é a peça mais importante da engrenagem que pode evitar mortes e sequelas no trânsito.

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