Número de mortes no trânsito pode ser ainda maior

13/03/2019 às 3:17 pm

Publicado em AutoPapo

Especialista canadense explica que existem países onde autoridades acompanham o quadro de saúde dos acidentados por um ano para obter estatísticas fiéis

 

A engenheira civil especialista em tráfego e desenho de estradas Geni Brafman Bahar trabalha para melhorar as vias e prevenir acidentes de trânsito no Canadá. Sua função é agregar uma visão humana à engenharia. Ao modificar os desenhos das ruas, a profissional que nasceu em Belo Horizonte, Minas Gerais, se preocupa em facilitar a compreensão dos motoristas e pedestres, diminuir os erros humanos e aumentar a segurança no tráfego. Questionamos a engenheira sobre alguns itens relacionados ao tema e traçamos um parâmetro entre Canadá e Brasil.

Em primeiro lugar, a especialista chama atenção para a preocupação do país norte-americano em entender o número real de vítimas fatais. “No Canadá, as autoridades não fecham um boletim de ocorrência antes de 30 dias após o acidente. O padrão serve para garantir que as estatísticas retratem com fidelidade as mortes e a gravidade dos acidentes de trânsito no Estado”, explica.

“Para uso geral na administração de programas de segurança rodoviária, o período especificado é de 30 dias. Essa regra de contagem de fatalidade é adequada para a maioria das aplicações, mas outras são necessárias para atender a requisitos específicos. Um parâmetro de 12 meses para a contagem de fatalidades é usada de acordo com os procedimentos da Organização Mundial de Saúde adotados para relatórios de estatísticas vitais nos Estados Unidos. A experiência indica que, das mortes por acidentes de trânsito que ocorrem dentro de 12 meses, cerca de 99,5% ocorrem em 90 dias e cerca de 98% ocorrem em 30 dias”, explica o Manual de Classificação de Acidentes de trânsito do American National Standard.

No Brasil, segundo a assessoria de comunicação da Polícia Rodoviária Federal (PRF), as mortes contabilizadas são aquelas que acontecem durante os acidentes: “os dados da PRF se referem apenas dos óbitos constatados imediatamente no acidente. Até mesmo porque o óbito posterior ao acidente, mas em decorrência dele, depende de perícia”. Esse fato mostra que o número de vítimas fatais no Brasil é subestimado.

A assessoria da PRF explicou ainda que existem outros órgãos que podem fazer o acompanhamento das vítimas e contabilizar as mortes em decorrência de acidentes, como o Ministério da Saúde. Questionado, o órgão não respondeu por quanto tempo acompanhas as vítimas de acidentes de trânsito.

Mesmo com dados falhos, já que só sabemos quantas pessoas perderam a vida durante os acidentes de trânsito, o número de mortes brasileiro é muito diferente do canadense. Em 2016, quando foi realizado o último levantamento do Sistema de Informações sobre Mortalidade do Ministério da Saúde, o Brasil registrou 37.345 mortes no trânsito. No mesmo período, o Canadá perdeu 1.895 vidas pelo mesmo motivo.

Impressões sobre o trânsito brasileiro

Em viagem ao Brasil, Geni Bahar afirma perceber pouca atenção dos motoristas aos pedestres, motociclistas e sinais. “É comum observar condutores ultrapassando uma placa de pare e tendo pouca atenção aos mais vulneráveis, como ciclistas”, comenta.

A especialista diz ainda que impressiona a falta de uma faixa específica para motociclistas, já que eles existem em grande quantidade por aqui. “Acho que o trânsito está injusto e muito perigoso para os motociclistas. Tem que haver mais atenção por parte das autoridades. Não fico surpresa que as estatísticas sejam tão tristes”, lamenta a engenheira.

Das 37,3 mil mortes que ocorreram no trânsito do Brasil em 2016, as motocicletas foram responsáveis por 12,1 mil, de acordo com as informações do Observatório Nacional de Segurança Viária.

Os veículos de duas rodas também foram responsáveis por 74% de todas as indenizações do DPVAT (Seguro de Danos Pessoais Causados por Veículos Automotores de Via Terrestre).

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