OPINIÃO: Nova Chance

27/08/2020 às 10:24 am

                                                                                                                                   Consultor em programas segurança no trânsito

A Assembleia Geral da ONU aprovou na terça-feira, 18 de agosto de 2020, a realização da Segunda Década Mundial de Ações de Segurança no Trânsito no período de 2021 até 2030, dando continuidade, assim, à Primeira Década, começada em 2011.

Embora o objetivo global de reduzir pela metade o número de vítimas fatais não tenha sido atingido pela maioria absoluta dos países, deve-se reconhecer que a iniciativa cumpriu a importante missão de despertar um grande número de nações para a violência no trânsito e a necessidade de estancá-la. Não se trata de tarefa simples considerando que a dificuldade de alguns países para eleger o trânsito como prioridade é quase intransponível em razão da precariedade social, econômica e muitas vezes até política. A África é o continente-símbolo desta afirmação mas há países em que a complexidade da situação torna compreensível a inação, ainda que inaceitável.

O Brasil está no meio do caminho. Aqui as coisas não são tão boas como gostaríamos que fossem, mas nem tão ruins como muitos criticam. Num ponto, no entanto, todos concordam: o trânsito brasileiro seria bem melhor se nossas lideranças tivessem percebido o alcance do devido apoio ao longo desta caminhada nas últimas décadas.

Para aqueles que sonham com o trânsito brasileiro domado, humano, obediente e com menos vítimas, saibam que ele é possível mas há condições para isto: há que ser feito um pacto nacional entre todos os atores que nele atuam para dividir o peso da carga, vale dizer: todo mundo. A 2ª Década de Trânsito pode ser a alavanca que o país precisava para dar concretude à ideia. Como já estamos no fim de agosto, temos pouco tempo para terminar nosso barco e colocá-lo na água para navegar no mar revolto do trânsito em 2021 rumo a 2030.

Precisamos entender que os países desenvolvidos só conseguiram domar seus sistemas de trânsito após décadas de muitos estudos, trabalho duro e investimentos adequados. Conosco não será diferente. Não vamos queimar etapas, mas, quem sabe, poderemos encurtá-las. Assim, quanto antes começarmos, melhor. A 2ª Década Mundial tem tudo para ser o ponto de partida desta desafiadora corrida.

O pontapé inicial tem de ser dado pelo Comando da República. A partir do apito inicial do presidente, o jogo começa pelos andares de baixo que põem a bola em jogo e que não vai acabar tão cedo. Embora o trânsito seja algo complexo, desenvolver um plano de ação para os próximos 10 anos não é bicho de sete cabeças, mas é indispensável. Temos bons exemplos como referência, mas também temos competência para realizá-lo, brasileiramente.

Conhecemos nossos principais problemas assim como sabemos das soluções possíveis. Sabemos como envolver os brasileiros neste processo que será longo, penoso, mas gratificante por que ele simboliza o desejo da maioria absoluta dos cidadãos, ainda que muitos não tenham ideia da dimensão dos seus benefícios. É nosso dever alertar a sociedade e todos juntos pressionarmos o Governo para aproveitar esta nova chance de começar a moldar o trânsito que nossos netos e tataranetos irão desfrutar um dia. Não importa que demore duas ou três décadas. Afinal, já estamos pagando esta conta há décadas com milhares de mortos e feridos. Agora, saberemos, pelo menos, que futuro podemos esperar.

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