Pai caminhoneiro educa os filhos a distância

23/08/2016 às 3:00 pm

Publicado em: O Progresso (13/08/2016)

O que é ser pai? Como ser um bom pai? A resposta é complexa e rende assunto para livro. Há quem diga que o verdadeiro pai é aquele que está presente na vida do filho. Mas há uma grande diferença entre estar presente e ser presente. Vida de caminhoneiro é assim. A rotina de trabalho o separa da família. Em nome desta categoria O PROGRESSO presta homenagem ao Dia dos Pais, celebrado neste domingo.

Em tempos de transformações de relacionamentos sociais, as possibilidades de comunicação a distância são grandes e facilitam matar a saudade por meio de redes sociais como WhatsApp, Facebook. Isso tem ajudado caminhoneiros a entrar em contato com a família, mas nada disso substitui a oportunidade de estar na presença, já que é possível ser presente da família mesmo a distância.

A reportagem foi atrás de caminhoneiros no Posto da Base, em Dourados, ponto de encontro de profissionais da categoria que passam pelo município. Paulo Cesar Sare, 47 anos, mora em Abadiânia (GO) e tem três filhos com 27, 24 e 19 anos. Na profissão há duas décadas, ele diz que não foi fácil, no início, viver ausente da família, principalmente em período de longas viagens de quase dois meses.

“Hoje é mais fácil, pois temos redes sociais e até porque meus filhos já estão grandes. Mas deixei de estar presente ao lado deles durante eventos importantes como Natal, aniversário e me lembro muito bem de um caso ocorrido quando um dos meus filhos, ainda criança, pediu para participar de uma festa do Dia dos Pais, na escola. Ele cobrou minha participação e isso me marcou muito, pois foi aí que percebi o quanto a minha presença era importante, nem que fosse apenas para aquele dia”, recorda Paulo Cesar. Ele é formado em Matemática e lecionou por nove anos, mas descobriu nas estradas do Brasil a sua verdadeira vocação de trabalho.

Os finais de semana são sempre os dias para os caminhoneiros matarem a saudade da família e aproveitar para se dedicar aos filhos. Aquela máxima que são preferíveis 30 minutos de exclusividade ao lado deles do que mais tempo junto, porém, sem ser presente ou dividindo a família com outras tarefas, é válida e verdadeira para os caminhoneiros.

Ricardo Viana, 31 anos, é de Xambrê (PR) e tem um filho de 4 anos. Quando está em casa diz que aproveita o máximo para se dedicar à família. “Vida de caminhoneiro é na estrada e estou há oito anos nessa luta, mas quando estou ao lado deles [família] eu esqueço o trabalho”, disse ao falar da importância de se dedicar principalmente ao único filho. “Embora ele seja pequeno, já entende a minha profissão, mas todos os dias a gente se fala por telefone e a saudade da distância se encurta aos sábados e domingos, quando estou em casa”, explica Ricardo. As viagens dele duram de uma a duas semanas.

O douradense Joel Lopes, 54 anos, está há 15 na profissão de caminhoneiro. Ele confessa que ainda não acostumou ficar longe da família e chegou a pensar em abandonar a profissão. Os principais motivos são os riscos de acidente, aumento no número de assaltos e o baixo preço do frete pago aos profissionais. Pai de dois filhos – 17 e 22 anos – também conviveu com a realidade de vê-los aos finais de semana, mas nunca se sentiu um pai ausente.

 

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