País ainda tem 1,6 milhão de carros com recall do airbag TAKATA.

26/08/2020 às 11:53 am

O registro este ano das três primeiras mortes no país relacionadas ao defeito no airbag da Takata, alvo de 71 recalls apenas no Brasil, acendeu o sinal de alerta na Secretaria Nacional de Defesa do Consumidor (Senacon), órgão do Ministério da Justiça. A preocupação é que o número de acidentes aumente. Isto porque, em 2021, o país vai completar sete anos de obrigatoriedade de airbags em veículos. A fabricante japonesa do acessório já admitiu aumento do número de problemas no insuflador após seis anos de uso.

No Brasil, por incrível que possa parecer, há ainda mais de 1 milhão e seiscentos mil veículos que ainda não atenderam à convocação da Takata para a troca do acessório, segundo dados da Senacon. Aumentar a média de atendimentos dos atuais 50% para níveis superiores a 70%, média internacional, é o objetivo da secretaria. As montadoras foram convocadas a apresentar, no dia 31 deste mês de agosto, propostas que aumentem a efetividade dos recalls. “Tivemos muito avanços do ano passado para cá, com a inclusão da pendência do recall no documento do carro, o uso do cadastro do Denatran para localizar proprietários dos veículos, mas ainda não alcançamos a nossa meta. Queremos identificar as práticas mais efetivas para torná-las padrão”, diz Leonardo Marques, coordenador-geral de Consultoria Técnica e Sanções Administrativas da Senacon.

Em paralelo, o Denatran está preparando uma pesquisa para entender se os brasileiros sabem o que é recall, se já foram notificados, se atenderam ao chamado e, quando não, o motivo. A pesquisa entra no ar em setembro no portal do órgão, que recebe cerca de 700 mil acessos mensais. “Pedimos às montadoras que nos informem sobre o retorno do serviço que prestamos de notificação dos proprietários, qual o índice de atendimento das convocações, a eficiência da informação no documento. Esses dados permitirão aprimorar o sistema”, explica Frederico Carneiro, diretor do Denatran.

Lógica invertida

Desde 2010, a Honda já convocou 18 campanhas de recall relativas à Takata. A fabricante registrou 42 casos de rompimento anormal do airbag, sendo 16 deles com ferimentos, e confirma uma vítima fatal, número que diverge do informado pela Senacon, que contabiliza duas mortes. Para a montadora, o projeto de lei 3.267/2019, em tramitação no Congresso, que torna a pendência do recall impedimento para o licenciamento do veículo, pode incentivar o atendimento. Tornar o recall efetivo é uma obrigação do fornecedor. O projeto de lei transfere o ônus para o consumidor. As montadoras poderiam arcar com a locação de veículo pelo tempo do conserto e indenizar o proprietário pelo tempo perdido. Isso seria um incentivo.

Montadora com o maior número de carros envolvidos nos recalls da Takata no Brasil, cerca de dois milhões, a Toyota diz ter um índice de atendimento de 65%, acima da média nacional. A empresa afirma que diversificou a comunicação, usando cartas, e-mails, redes sociais e promotores para distribuir avisos de risco.

A GM, fabricante com o primeiro registro de morte no país, único da montadora no mundo, diz que, além dos meios tradicionais, notifica os proprietários por WhatsApp.

A Associação Nacional de Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea) não quis se manifestar antes da reunião.

Primeira morte em Aracaju

O empresário Plinio Lobato, de 64 anos, morador de Aracaju, Sergipe, foi a primeira vítima fatal da deflagração anormal do airbag da Takata no Brasil. Em 20 de janeiro, o Celta ano 2014 que Lobato dirigia colidiu com outro automóvel na Orla do Atalaia, em Aracaju. Ele morreu instantes depois do acidente. “Meu pai dirigia o carro, meu namorado estava no banco do carona e eu, no de trás. Eu e meu namorado não sofremos sequer um arranhão, o airbag do carona inflou normalmente. Já o airbag do meu pai ficou caído para o lado, cortado e com manchas de sangue”, conta a filha do empresário Roberta Lobato, de 29 anos. O alerta de que os fragmentos metálicos do airbag podiam ser a causa da morte foi feito pelo legista, diz Roberta: “Ali no acidente vi que saía uma fumaça do volante, mas não imaginei que uma peça do airbag pudesse ter cortado o pescoço do meu pai. Foi o legista que nos alertou para a necessidade de investigação, porque a peça encontrada no corpo provavelmente teria saído do airbag. ”

O que é o Recall

Trata-se de um comunicado da indústria produtora de bens de que há risco à saúde ou segurança do consumidor. A solução do problema deve ser oferecida pela empresa sempre sem custo para o consumidor. No caso do setor automotivo, quem já tem a carteira de trânsito digital (CDT) pode verificar essa informação no aplicativo. Os sites das montadoras também têm a lista dos recalls em andamento, mas nem sempre é simples de encontrar. Em vários estados, essa informação também aparece na renovação do documento do carro em papel. Ao não atender o recall, proprietário do carro se coloca em risco e também a terceiros. Um projeto de lei propõe que a pendência do recall seja impedimento para licenciamento do automóvel.

Fonte: O Globo

últimas Postagens