Pedestres representam 50% das mortes no trânsito

08/08/2018 às 3:07 pm

Publicado em: Diario de Pernambuco

 

Na pirâmide da mobilidade urbana, o pedestre deveria figurar como ponto central da lei, da fiscalização e dos planejamentos. Entre os atores do trânsito e na hierarquia da mobilidade, todos são pedestres, seja quem faz seus trajetos diariamente a pé, seja ao descer da bicicleta ou pegar um ônibus, ou atravessar uma rua e caminhar pela calçada até chegar ao seu automóvel.

Embora a Política Nacional de Mobilidade Urbana tenha entendido e definido a urgência em estabelecer o pedestre como prioridade, seis anos após as diretrizes serem instituídas, metade das mortes no trânsito no país ainda vitimam essa parcela da população. Um a cada quatro indenizados pelo Seguro DPVAT são pedestres, de acordo com dados da Seguradora Líder, responsável pela gestão do DPVAT.  Para piorar a situação, o uso de celular tem sido, segundo a seguradora, um fator de distração que tem colocado a vida dos pedestres em risco.

Somente neste ano, de janeiro a junho, aproximadamente 170 mil indenizações do Seguro DPVAT foram pagas para vítimas de acidentes de trânsito em todo o país. “Destas, 42.650 foram para pedestres, nos três tipos de cobertura: morte, invalidez permanente e despesas médicas e hospitalares. As vítimas também ocupam o segundo lugar nas indenizações pagas por acidentes fatais, um total de 5.506. Além disso, mais de 32 mil pedestres foram indenizados por invalidez permanente”, informou a Seguradora Líder. No ano passado, Recife foi a oitava capital brasileira que mais teve indenizações pagas pelo Seguro DPVAT a acidentados no trânsito, totalizando 3.447 sinistros.

Em relação ao perfil dos indenizados, os números mostram que a maior incidência de indenizações pagas foi para vítimas da faixa etária considerada economicamente ativa, de 18 a 34 anos, que representam 34% dos pedestres indenizados pelo Seguro DPVAT (mais de 14 mil). Em relação a 2017, foram pagas mais de 380 mil indenizações em todo o país. Do total, 98.750 sinistros foram pagos para pedestres. O número corresponde a 27% do total de indenizações, neste mesmo período, para todos os tipos de vítimas.

 

Risco

Para a seguradora, entre os principais motivos da falta de atenção do pedestre ao caminhar nas ruas está o uso do celular. Digitar, ler, falar e usar o fone de ouvidos aumentam as chances de acidentes em até 80%. Segundo a empresa, neurologistas alertam que o uso do fone de ouvido e do celular aumenta de 3 a 9 vezes a possibilidade de acidente.

“O uso do celular já é considerado um problema tão grande que alguns países adotaram medidas para reduzir o número de acidentes. Em Augsburg, na Alemanha, a prefeitura instalou um semáforo específico, fixado no chão, para que o pedestre com os olhos voltados para o celular perceba os sinais da rua. Já no Japão foram criadas calçadas específicas para pedestres que não abandonam o aparelho. No ano passado, a cidade de Honolulu, no Havaí, aprovou uma lei municipal proibindo os pedestres de usarem aparelhos eletrônicos durante a travessia de ruas e avenidas”, alertou a seguradora.

Para a arquiteta e urbanista  Ângela Carneiro da Cunha, o problema desses índices alarmantes começa quando não se encara a calçada como parte integrante, primeira e fundamental do sistema viário de uma cidade que ao mesmo tempo é, ou deveria ser, o sistema prioritário de circulação das pessoas.

“No Recife, cerca de 60% dos acidentes fatais são com pedestres e nos horários de picos. Porque as calçadas são ilhas isoladas dentro da cidade. E não existe segurança para se alcançar o outro lado da via para se fazer as travessias. E por que não existe segurança? Por falta única e exclusiva de prioridade de planejamento. No Brasil, a calçada é um apêndice do sistema viário. O dono do lote é o proprietário do seu percentual de calçada e cada um faz o que quer com ela. As calçadas, antes de tudo, precisam ser planejadas com a mesma lógica que a via”, afirma a arquiteta.

últimas Postagens