Precisamos de políticas públicas para reduzir acidentes com veículos de duas rodas

12/09/2019 às 4:56 pm

A morte de um engenheiro em Belo Horizonte, que deixou dois filhos e sofreu traumatismo craniano após queda quando conduzia um patinete elétrico, é mais um alerta para a sociedade sobre os riscos da proliferação do transporte em duas rodas, sem equipamento de segurança e regulamentação mínima.

Somente na capital mineira já foram atendidas mais de 100 pessoas após quedas com esses patinetes.  Outros acidentes vem ocorrendo com usuários em suas velozes e pesadas bicicletas elétricas em todo país. Sem falar em ciclistas que transportam refeições e outros produtos em enormes mochilas. No Rio de Janeiro são milhares de jovens que circulam sem nenhum respeito as normas de trânsito em bicicletas improvisadas, a serviço de empresas de entregas.

Trafegam no meio dos veículos, na contramão, invadem calçadas, naturalmente sem nenhum treinamento e sem capacete. Colocam sua vida em risco e muitas vezes também a dos pedestres. Enquanto as empresas enchem o cofre com o lucro, deixam para a sociedade o custo de atender as vítimas e as vezes cuidar delas pelo resto da vida.

Tudo isso amplia o leque de vítimas de acidentes sobre duas rodas. Nos últimos dez anos, o Seguro DPVAT pagou 3,2 milhões de indenizações por ocorrências envolvendo motocicletas e ciclomotores. Deste total, quase 200 mil pessoas morreram e 2,5 milhões ficaram com algum tipo de invalidez permanente.

Os números ainda mostram que, na última década, os benefícios destinados a vítimas de acidentes com motos e as “cinquentinhas” representam cerca de 72% do total de pagamentos efetuados pelo seguro obrigatório (4,5 milhões). Entre 2009 e 2018, as indenizações pagas pelo Seguro DPVAT cresceram 28%.

São dados que não podem mais ser ignorados pelas autoridades e pela sociedade. Estamos há décadas patinando na adoção de medidas para evitar acidentes com veículos em duas rodas. Enquanto protelamos as pessoas morrem ou ficam com sequelas. Decisões antipáticas e eficientes precisam ser tomadas, para evitar que pessoas circulem em duas rodas, de patinete, bicicleta ou motocicleta, sem respeitar normas rígidas de trânsito e segurança. Principalmente quando empresas descobrem que as brechas na lei abrem um caminho para o lucro a qualquer preço e massificam as consequências. A vida sobre duas rodas também merece respeito.

Rodolfo Rizzotto é especialista em segurança no trânsito e coordenador do Programa SOS Estradas.

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