Risco de sinistros é maior em rodovia pública.

12/07/2022 às 10:34 am

O risco de ocorrer uma tragédia em rodovia sob gestão pública é até quatro vezes maior do que em rodovia concedida à iniciativa privada. A conclusão é de estudo divulgado pela Fundação Dom Cabral, com base em dados registrados pela PRF entre  2018 e 2021.

Durante o período, foram registrados 264.196 sinistros de trânsito em rodovias sob jurisdição federal, sendo que a incidência dessas ocorrências foi maior nas rodovias que são administradas pelo Poder Público (79,7%) do que nas rodovias concedidas (20,3%). Quando se considera a gravidade dos acidentes, a taxa de severidade nas rodovias sob gestão pública corresponde a 80,4%, enquanto nas vias concedidas é de 19,6%. “Fizemos a divisão [público e privado] porque um dos objetivos do nosso estudo é convencer a gestão pública brasileira e a sociedade de que devemos criar fontes de financiamento para que as nossas rodovias sob gestão pública melhorem”, disse Paulo Resende, professor da fundação e pesquisador responsável pelo estudo. “Precisamos, como brasileiros, abrir uma discussão sobre como criar essas fontes de financiamento”, destacou. Para o pesquisador, o que explica o fato das rodovias públicas serem mais perigosas e propensas a acidentes é, inicialmente, a falta de investimento. “A ocorrência que mais mata no mundo inteiro é a colisão frontal. E a colisão frontal entre veículos ocorre com altíssima probabilidade em pistas simples, com uma mão que não está fisicamente separada da outra mão. Quando você tem uma concessão, uma das obrigações é de duplicar a pista e aí você reduz os acidentes de colisão frontal, que são os que mais matam”, afirmou. Mas há também falhas na gestão, apontou Resende. “É preciso arrumar recursos que garantam maior nível de investimento para as rodovias sob gestão pública. A outra questão é o mapeamento, a gestão conjunta, a gestão consolidada e integrada entre os entes da federação. Temos que ter intervenções em trechos historicamente conhecidos, por exemplo.

Sinistros – Para que a comparação entre diferentes rodovias, com menor ou maior extensão, pudesse ser feita, o estudo trabalhou com taxas de sinistros (sem levar em conta o volume do tráfego da pista) e taxas de severidade (dando peso diferente para a gravidade do acidente). A estratégia buscou reduzir a influência do volume de veículos que circulam a cada dia no trecho de ocorrência, já que rodovias mais movimentadas tendem a apresentar maior número de sinistros. Isso também pretende eliminar a diferença entre a quantidade de rodovias que estão sob administração pública das rodovias já concedidas, que correspondem hoje a cerca de 14% do total. O estudo mostrou ainda que a maior parte (80%) dos registros ocorridos nas estradas federais acontecem em apenas 46% da extensão da pista. “Isso significa que nós sabemos onde as tragédias acontecem no Brasil. Não é surpresa para ninguém que essas ocorrências se repitam.

Ranking das rodovias – O estado brasileiro que apresenta a maior taxa de ocorrências e também a maior taxa de severidade [gravidade] é o Rio Grande do Sul, seguido pelo Paraná, Minas Gerais, Santa Catarina e Rio de Janeiro. Já as rodovias brasileiras que apresentam maior taxa de sinistros de trânsito com maior taxa de gravidade são a BR-101, que começa no Rio Grande do Norte e segue até o Rio Grande do Sul, e a BR-116, que vai de Fortaleza ao Rio Grande do Sul. Segundo o estudo, a severidade das ocorrências é mais intensa nos trechos dessas rodovias que permanecem sob gestão pública. “Nas BRs, não por coincidência, os trechos sob concessão apresentam taxas muito menores de severidade do que a parte sob gestão pública”, disse Resende.

Posição do governo – O Ministério da Infraestrutura informou que, entre 2019 e junho deste ano, foram revitalizados, construídos ou duplicados 4,7 mil quilômetros de rodovias federais. Segundo o ministério, somente no modal rodoviário foram concedidas sete rodovias, o que gerou R$ 48,8 bilhões em investimentos privados. Neste ano, dois lotes do Sistema Rodoviário do Paraná deverão ser leiloados e, para o ano que vem, estão previstas concessões de outros 44 ativos.

Fonte: Agência Brasil

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