Velocidade reduzida melhora o trânsito

08/02/2022 às 11:15 am

Ainda que contraditório, aumentar a velocidade dos veículos em circulação nas vias pode acabar, na verdade, piorando o trânsito.

Nas primeiras décadas do século XX, a relação do automóvel com a velocidade era a demonstração do progresso e do desenvolvimento tecnológico no ambiente urbano. O carro era capaz de entregar desejos essenciais para a sociedade do futuro: conforto, resistência, liberdade e, o principal, a velocidade. Assim, o automóvel deixou de ser somente um simples meio de transporte, e passou a ser uma máquina ágil para efetuar deslocamentos em um curto intervalo de tempo. Nas áreas urbanas, onde precisam conviver em harmonia pedestres e veículos de todos os tamanhos e formas, as autoridades passaram a priorizar medidas de engenharia que não interferissem muito na circulação viária. O objetivo passou a ser um desenho urbano com foco na fluidez e na velocidade dos veículos. A crença era que com o aumento de velocidade nos deslocamentos seria possível aumentar os níveis de produção, gerando maior eficiência e economia. É quando se inicia a relação paradoxal da velocidade. Enquanto o pensamento inicial era de que o aumento da velocidade dos deslocamentos permitiria viagens mais rápidas para a população, o que se concretizou foi exatamente o oposto. O aumento da velocidade permitiu que as pessoas fossem morar mais longe, facilitando deslocamentos maiores e tornando as cidades cada vez mais dispersas. Com a popularização do automóvel, cresceu o número de pessoas indo morar em áreas cada vez mais afastadas do centro da cidade, não somente numa tentativa de fuga da insegurança, como também pela busca por um ambiente mais, confortável e “puro”. Desse modo, o aumento da velocidade dos deslocamentos não permitiu a redução do tempo de viagem e sim o aumento das distâncias de deslocamento. Assim, a lógica de que o tempo de viagem se reduziria a partir do aumento da velocidade não se provou verdadeira. A história tem apontado que as distâncias entre os deslocamentos estão aumentando com o passar dos anos, considerando que, à medida que as pessoas adquirem maior mobilidade e facilidade de se locomover, elas acabam viajando distâncias maiores. Por consequência, o aumento do número de automóveis nas vias tem ocasionando cada vez mais congestionamentos e tempos de deslocamentos maiores. As soluções que partem do princípio de incremento da capacidade viária para aumentar a velocidade de deslocamento e solucionar os problemas de congestionamento não somente se provaram erradas como também passaram a trazer outros danos para a cidade.

Velocidade & violência no trânsito – Um dos principais danos relacionados ao aumento da velocidade dos automóveis é o crescimento no número de fatalidades em sinistros de trânsito. Com velocidades maiores, os motoristas têm menor visão periférica e menor tempo de reação, sentidos fundamentais para desviar de obstáculos nas vias. Atropelamentos com velocidade acima de 60 km/h., por exemplo, equivalem a uma queda do 6° andar de um edifício e a chance de sobrevivência é quase nenhuma. Definitivamente a redução da velocidade do automóvel nas vias não somente reduz o risco de sinistros como também ajuda na diminuição da poluição sonora e ambiental. Velocidades menores também melhora a fluidez das vias, como apontou o estudo da Companhia de Engenharia de Tráfego (CET) de São Paulo em 2016, após redução dos limites de velocidade máxima das marginais de São Paulo. Por fim, diferentemente do que se pensava décadas atrás, que o automóvel reduziria o tempo entre os deslocamentos, o veículo ajudou a ocasionar o efeito oposto. Pensar em reduzir as distâncias entre os deslocamentos é mais importante do que pensar em aumentar a velocidade das viagens. Esse aumento pode acabar incentivando as pessoas a morarem cada vez mais afastadas de onde realizam suas atividades diárias. Em países rodoviaristas – e o Brasil é um deles – a velocidade veicular está associada a obras de infraestrutura, com ampliação da capacidade ou criação de novas vias. Por isso, essas decisões devem ocorrer em conjunto com a política de uso e ocupação do solo, de modo que a criação de uma nova avenida ou rodovia não seja um incentivador de um modelo de cidade mais dispersa, menos sustentável e mais poluente, implicando em uma cidade mais onerosa para a gestão urbana.

Fonte: Portal Caos Planejado e Redação Portal TRÂNSITO LIVRE

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