Ao lado de carro voador, autônomos brilham em Frankfurt

20/09/2017 às 4:50 pm

Publicado em: Exame

Há 120 anos o Salão do Automóvel de Frankfurt, na Alemanha, que vai até o dia 24, apresenta os lançamentos e as tendências de veículos. Desta vez, entre as estrelas está até um carro voador. A empresa eslovaca Aeromobile apresentou um projeto que pode sair do papel em 2020 e que já tem pré-venda acontecendo. Por 1,5 milhão de euros, os interessados podem reservar o modelo que tem estrutura de fibra de carbono e vai voar ou rodar movido por um motor de 1.6l com capacidade de atingir uma velocidade de até 360 km/h, ganhando asas em cerca de três minutos.

 Mas enquanto os fabricantes do carro voador resolvem questões de legislação e viabilizam a produção em escala, a indústria automotiva discute questões mais terrenas. O mais importante da edição 2017 são os carros autônomos. “Vivemos um processo de evolução exponencial dos produtos”, diz Ricardo Bacellar, diretor do setor automotivo da consultoria KPMG.

Mas até que os motoristas sejam meros acessórios atrás dos volantes, há algumas etapas a serem cumpridas: assistência na condução, automação parcial, automação condicional, alto grau de automação e automação plena. “São níveis de automação que são cumpridos cada vez mais rápido. Já temos sensores capazes de conduzir os carros por distâncias consideráveis. Estamos em cerca de 75% do projeto de um carro que anda totalmente sozinho, no quarto nível de automação”, diz Bacellar.

As montadoras mostram em Frankfurt que os carros autônomos já estão bem perto de chegar às ruas. A Audi é uma das companhias com o projeto mais adiantado. Prova disso é o modelo recém-lançado Audi A8, com condução autônoma de nível três – a primeira montadora a produzir em escala um modelo tão tecnológico. “Desde 1998 fazemos intervenções visando que o carro tenha combustíveis alternativos e uma condução autônoma. Chegamos a um ponto em que ele já consegue se pilotar sozinho, mas depende do meio externo para responder perfeitamente aos estímulos”, diz Lothar Werninghaus, consultor Técnico da Audi do Brasil.

O modelo chega ao país em 2018 por cerca de 500.000 reais e tem funções como assistente de estacionamento, em que dispensa o motorista para estacionar e assistente de trânsito, que assume controle da condução quando o trânsito está lento, até 60 km/h, em rodovias onde uma barreira física separa as duas faixas da pista. “O motorista não precisa mais monitorar o carro permanentemente. Ele poderá retirar suas mãos do volante e, dependendo das leis nacionais, focar em uma atividade diferente oferecida pelo automóvel, como assistir TV”, diz Werninghaus. O carro faz massagens no motorista e avisa quando ele precisar retomar a condução.

Tudo isso é possível porque uma central tecnológica calcula permanentemente a imagem dos ambientes ao redor do veículo ao mesclar os dados de sensores. Além dos sensores de radar, uma câmera frontal e os sensores ultra-sônicos, a Audi é a primeira fabricante a usar um scanner a laser.

E quando chega por aqui?

Um levantamento da consultoria Jato Dynamics, especializada no setor automotivo, mostra que o interesse por automação também se replica no Brasil. Mas a mudança por aqui é lenta. Em 2011, 0,2% dos carros vendidos no país tinham piloto automático, número que está em 1,1% no acumulado de 2017. O controle automático de freio em curvas passou de 1,8% para 9,5% no período, enquanto o computador de bordo pulou de 44,2% para 72,1% nos últimos seis anos.

“De forma geral estamos vivendo a segunda fase da condução autônoma no Brasil, aquela onde há recursos para substituir o controle manual, mas o motorista ainda é fundamental. Nos Estados Unidos, por exemplo, já estamos na quarta fase de automação, onde grandes trechos já podem ser percorridos de forma autônoma”, diz Milad Kalume Neto, gerente a consultoria Jato Dynamics. “Os itens mais tecnológicos estão disponíveis apenas nos veículos mais caros por aqui”, afirma.

Para a montadora americana Ford esse é justamente o maior desafio: popularizar a tecnologia no país. Segundo Rogelio Golfarb, vice-presidente da Ford América do Sul, a companhia já tem tecnologias como piloto automático adaptativo, alerta de colisão e sistema de permanência em faixa nos modelos topo de linha vendidos por aqui. O executivo afirma que um dos limitadores do avanço da tecnologia rumo aos carros autônomos é a cadeia de fornecedores do Brasil. “Infelizmente não temos como nacionalizar a produção, pois não há fabricantes de itens tecnológicos por aqui”, diz. Importar os produtos resulta em preços maiores e consequentemente em vendas menores.

A montadora trabalha globalmente para lançar seu modelo autônomo em 2021 – sem volante e pedais. A empresa fez parcerias com empresas de tecnologia como Google, Lyft, Uber, além de trabalhar com a sueca Volvo para organizar um lobby junto ao governo americano e definir as regras para os veículos autônomos. A expectativa é que as leis definidas nos Estados Unidos sirvam de base para o regulamento no resto do mundo.

Enquanto as fases de testes incluem carros que voam, percorrem longas distâncias e até mesmo entregam comida sem motorista, as montadoras também se preparam para a integração dos veículos com as pessoas, como nos filmes de ficção cientifica. Na Audi, por exemplo, há estudos de como ativar comportamentos nos carros. “Estamos falando de inteligência artificial. De um carro que reconhece um ambiente hostil e um invasor e dispara a buzina, ou que reconhece pessoas amigáveis e pisca os faróis em sinal de simpatia”, diz Werninghaus. Por enquanto, os veículos limitam-se a responder os comandos de trânsito e perguntas dos donos, como recomendação de restaurantes, por exemplo. Mas em um futuro próximo, além de voar, eles podem começar a falar com você.

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