Carnaval e os perigos do trânsito, por Fernando Pedrosa

20/02/2020 às 12:11 pm

Um levantamento da Associação Brasileira de Medicina de Tráfego com base em dados da PRF sobre as ocorrências trágicas nas estradas durante o período de carnaval indica que, de 2009 a 2019, quase 59 mil pessoas se envolveram em acidentes nas estradas. Foram quase 20 mil pessoas feridas, muitas com sequelas pelo resto da vida, e cerca de 1.500 mortos, num período do ano que deveria ser de festa e alegria.

Desde então, em função de alguns fatores externos e, principalmente, pela maior conscientização da sociedade sobre os riscos na direção de um veículo automotor – que parece algo fácil, mas que de simples não tem nada – esses números têm diminuído. Mas isso não merece comemoração. Temos ainda índices de mortos e feridos muito altos, com características de epidemia, se comparados com países mais avançados. O que temos no Brasil é uma doença social, que embora não tão contagiosa como o coronavírus – a pandemia da moda no momento -, é bem mais letal e que não apresenta qualquer sintoma, até que a o desfecho trágico aconteça. A boa notícia é que ela é perfeitamente previsível e, por isso mesmo, perfeitamente evitável. A vacina? Consciência dos riscos, atitudes de respeito às leis e ao próximo e prudência ao volante.

No carnaval, assim como nas grandes datas festivas como Natal e Ano Novo, os dados de mortos e feridos no trânsito dão um salto de 30% em média. E esse incremento acontece, predominantemente, nas rodovias e, em menor escala, nas vias urbanas. Isso se explica porque é nesse período que se registra grande afluência de veículos em deslocamentos para outras cidades, em busca de diversão, descanso e de visita familiares. Muitas vezes percorrendo longas distâncias, sem o preparo adequado (carro em condições precárias, motoristas cansados, com carga excessiva e lotação acima do permitido) e com a natural ansiedade de logo chegar ao destino, relaxando na atenção e desafiando os limites. Tanto os limites físicos suportáveis como, também, os das regras de circulação.

Já nas áreas urbanas, índices menores são registrados por conta dos curtos trajetos nos deslocamentos, da intensidade do tráfego que não permite velocidades excessivas e da presença mais intensa da fiscalização, principalmente na questão do consumo de álcool e drogas, com as operações Lei Seca no caso de cidades como Rio de Janeiro, Recife, Brasília e Vitória.

Por isso, o alerta mais importante neste período do Carnaval é dirigido especialmente aos que vão pegar as estradas. É um período de festa e intensa comemoração. Mas, o que deve prevalecer na mente de cada um desses viajantes sazonais é a importância de ir e voltar em absoluta segurança.

As estatísticas da Organização Mundial de Saúde, assim como as dos órgãos de trânsito brasileiro, indicam que a principal causa das mortes e ferimentos nas vias é atribuída ao fator humano. Falta de condições físicas e mentais, veículos sem conservação e atitudes imprudentes formam a combinação venenosa que pode colocar em perigo a vida de todos. Motoristas, seus acompanhantes e, até mesmo, a de outras pessoas que por infelicidade estejam no seu caminho.

A prevenção é tudo. Costumo sempre dizer que os acidentes de trânsito são, em sua esmagadora maioria, a infração que não deu certo: Um atropelamento por conta de um avanço de sinal. Uma colisão frontal por conta de uma ultrapassagem indevida. Um capotamento na curva pela velocidade excessiva. São alguns dos muitos exemplos que sustentam essa minha afirmação.

Com essa preocupação com a prevenção, acrescento um novo alerta e que é recorrente nesses períodos de festas. Além dos evidentes riscos da combinação perigosa, álcool, drogas e direção, há também que atentar para o cansaço físico. A atenção, a capacidade de reação e de percepção dos perigos ficam absolutamente comprometidos quando estamos fatigados, assim como também nos sentimos sob os efeitos de substâncias psicoativas como as bebidas alcoólicas e as drogas. No caso das bebidas alcóolicas há, inclusive um slogan muito utilizado que diz “SE BEBEU, NÃO DIRIJA”. Faço aqui um pequeno reparo nessa frase. Diga sempre, “SE VAI DIRIGIR, NÃO BEBA”. Essa importante decisão precisa ser tomada antes do cidadão sair de casa e ainda de forma consciente. Se saiu dirigindo e depois bebeu, já não vai ter o discernimento necessário para abandonar o carro e usar outro meio de transporte para voltar para casa.

DICAS PARA UM CARNAVAL SEGURO E SEM SUSTOS

 

Fernando Pedrosa é especialista em prevenção e segurança no trânsito e diretor do ITTS

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