Covid pode ser a causa de mortes no trânsito nos EUA

23/02/2022 às 5:10 pm

Dois anos após o início da pandemia de covid-19, os Estados Unidos enfrentam um aumento preocupante no número de mortes no trânsito, no que vem sendo descrito por autoridades como uma “crise nacional”.

Segundo os dados mais recentes do Departamento de Transportes dos EUA, 31.720 pessoas morreram entre janeiro e setembro de 2021, maior número já registrado nos primeiros nove meses de um ano desde 2006 e que representa aumento de 12% em relação ao mesmo período de 2020 (com 28.325 mortes). O maior percentual de crescimento nos primeiros nove meses de um ano já registrado pelo Fatality Analysis Reporting System, criado em 1975 e que analisa dados sobre mortes em acidentes com veículos motorizados. Esse aumento ocorreu apesar de uma redução no fluxo viário desde o início da pandemia, e foi verificado tanto em zonas urbanas quanto em estradas rurais. “Essa é uma crise nacional“, disse no mês passado o secretário de Transportes, Pete Buttigieg, ao anunciar medidas para combater o problema. “Nós não podemos e não devemos aceitar essas mortes como uma parte inevitável da vida cotidiana“, concluiu.

Cinto de segurança, velocidade e álcool – A tendência verificada pelo governo federal é confirmada por outras análises. Segundo o National Safety Council (NSC), uma organização sem fins lucrativos que atua na prevenção de acidentes e mortes, mais de 42 mil pessoas morreram nos primeiros 11 meses de 2021, um crescimento de 9% sobre 2020 e de 18% em relação a 2019. O gerente de estatísticas do NSC, Ken Kolosh, afirma que sua organização também verificou uma relação entre o salto nas mortes e a pandemia. Ele cita alguns fatores que contribuíram para esse crescimento. Particularmente durante os primeiros meses da pandemia, houve aumento no número de ocupantes de veículos que não estavam usando cintos de segurança e, exatamente por isso, cresceu o número de pessoas ejetadas dos veículos durante colisões. O analista também lembra que, desde o início da pandemia, houve aumento no número de acidentes envolvendo motoristas embriagados. O terceiro ponto destacado por ele é o fato de que, com a pandemia, menos pessoas tiveram de dirigir para o trabalho. “Nossas vias estavam muito menos congestionadas, o que permitiu que os motoristas dirigissem em maior velocidade“, disse ele. Apesar do provável impacto da pandemia, a crise de mortes no trânsito envolve também fatores crônicos e antigos. Um relatório divulgado no ano passado pelo Fórum Internacional dos Transportes, ligado à Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), comparou acidentes de trânsito fatais em 34 países. Quando analisada a evolução das mortes entre 2010 e 2018, houve queda em 26 desses países. Nos Estados Unidos, no entanto, o número de mortes cresceu 11% no mesmo período. O país também teve o pior resultado em relação a mortes de pedestres, com aumento de 46% no período, enquanto 25 países apresentaram redução. Muitos analistas observam que o sistema rodoviário americano foi projetado com o foco em eficiência e para permitir velocidade. “É preciso refletir sobre como projetamos nossas vias, para que todos possam usá-las em segurança. Isso inclui pessoas em automóveis, mas também pedestres, ciclistas e motociclistas”, diz Kolosh.

Mais mortes, menor fluxo no transporte e Plano Federal – O aumento no número de mortes no trânsito ocorreu ao mesmo tempo em que houve queda acentuada no uso de transporte público nos Estados Unidos. Dados do governo federal mostram queda de quase 80% no número de passageiros em metrôs, ônibus, trens urbanos e outros meios de transporte coletivo entre setembro de 2019 e setembro de 2020. Em setembro do ano passado, o volume de passageiros havia crescido modestamente, mas ainda permanecia quase 60% abaixo dos níveis pré-pandemia. O governo dos EUA apresentou no mês passado um plano federal para aumentar a segurança no trânsito, com verbas do pacote de infraestrutura anunciado pelo presidente Joe Biden. O objetivo é não apenas evitar acidentes, mas, caso ocorram, impedir que resultem em ferimentos graves ou morte. Estão previstas diversas medidas para aumentar a segurança das vias, incluindo desde projetos para ciclovias e faixas para ônibus até limites de velocidade mais rígidos e melhor iluminação. Também há planos de melhorar a segurança dos veículos com o uso de tecnologia. Especialistas destacam ainda a importância de garantir que as leis de segurança no trânsito, como limites de velocidade e uso de substâncias psicoativas, sejam fiscalizadas e cumpridas. Kolosh teme que, mesmo com o fim da pandemia, as mudanças que levaram a um maior número de mortes permaneçam. “Motoristas adotaram alguns comportamentos muito perigosos. Agora, à medida que o tráfego volta a níveis pré-pandemia, esses comportamentos estão ficando ainda mais perigosos e mortais“, afirma. Mas ele, assim como outros especialistas em todo o mundo, ressalta que não basta apenas encorajar mudanças de comportamento entre os motoristas. É necessário garantir que veículos, estradas e ruas sejam seguras.

Fonte: BBC Brasil e redação Trânsito Livre

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