Opinião: Missão comprida mas não cumprida

27/12/2021 às 6:03 pm

Desde que comecei a escrever artigos, meu único propósito foi o de trazer informações que abordem a segurança no trânsito e propor discussões sobre temas. São os mesmos objetivos do que fiz durante as mais de duas décadas em que atuei para o Programa Volvo de Segurança no Trânsito assim como dos meus dois livros publicados sobre o assunto: “20 anos de lições de trânsito no Brasil” e “Cultura de Segurança no Trânsito – casos brasileiros”. Entendo que a comunidade ligada ao trânsito brasileiro precisa melhorar o conhecimento sobre o assunto para poder disseminar o que sabe aos demais segmentos da sociedade. Somos um país com um nível precário de educação básica e quando falamos de trânsito sinto que o abismo é maior ainda. Daí, minha insistência de que temos que melhorar a cultura de segurança do nosso povo, se realmente estamos dispostos a construir um país melhor e onde o respeito seja a marca maior.

Isto não é fácil, nem simples, muito menos rápido. Mas tampouco impossível se contarmos com apoio das lideranças nacionais no topo e de boas parcerias na base. Outros países que conseguiram sair de posições de atraso estão se dando bem em pelotões mais à frente e rumam firmes para resultados ainda mais promissores. Nestes casos, o papel das lideranças para incentivar as ações de campo foi determinante para o sucesso da empreitada. É óbvio que devemos reconhecer os difíceis obstáculos que o momento brasileiro enfrenta, mas, deixemos bem claro, sempre tivemos e sempre teremos algum tipo de dificuldade.  Para mim, o ponto mais importante para um grande avanço em favor do trânsito é a tomada de posição por parte da sociedade de que está na hora de agir e para isto temos de ter consciência da importância de fazer pressão sobre nossas lideranças para conseguir o que é de direito. Estes exemplos são encontrados no mundo todo: grandes conquistas da sociedade foram conseguidas através de movimentos e pressão popular. Na hora em que a sociedade deixa de pedir para começar a exigir medidas de contenção da violência no trânsito brasileiro, as reações e os resultados começarão a aparecer naturalmente. Assim, devemos começar pelo posicionamento individual, passando para o familiar para chegar ao coletivo e fazer chegar nossas angústias às entidades de bairros, lideranças religiosas das muitas igrejas que congregam grande parte da população e finalmente chegar à escada política, começando pelos vereadores, deputados estaduais, federais e senadores. Esta gente não apenas tem a obrigação de ouvir a sociedade como o dever de atender seus anseios. Não cobrar este direito é abrir mão de melhor qualidade de vida que podemos desfrutar através de um trânsito mais humano, disciplinado e respeitoso.

Creio, assim, que o primeiro grande desafio será o de provocar reação na própria comunidade ligada ao trânsito. Uma vez conseguido este objetivo, será a hora de mobilizarmos a sociedade para a ação maior de pressão sobre as lideranças. Cada vez que as lideranças políticas percebem a seriedade de movimentos populares, resultados começam a aparecer. Como este é um movimento que contribuirá muito com o bem-estar do país, os governos têm papel central neste processo. Através suas áreas de educação e segurança no trânsito, podem cumprir bem melhor seu papel de disseminadores de cultura de trânsito junto a todos os segmentos da sociedade. Educação para o trânsito não é e nem pode ser apenas ensinar as criancinhas a atravessar a rua. Seu papel principal é o de melhorar a segurança e o comportamento da sociedade seja na família, nas empresas, nos sindicatos, nas entidades de classe, enfim, em todas as áreas onde possa haver um fio condutor capaz de levar a informação ao conjunto da população do país.

O ano de 2022 marcará a arrancada do PNATRANS, o sonhado programa de redução de vítimas de trânsito e esta será a grande oportunidade de dar um empurrão popular a este processo. Convoco, assim, cada adepto da causa da segurança no trânsito a dar sua contribuição individual. Como se vê, trata-se de missão comprida, começada há mais de 30 anos, mas ainda não cumprida pois falta muito para ser concluída.

Boa sorte a todos nós e bom ano novo para todo mundo!

*Artigo adaptado do Consultor em programas de segurança no trânsito. JPedro Corrêa

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