RJ perde R$ 35 bi com tempo gasto no trânsito

24/04/2017 às 11:01 am

Publicado em: O Globo

O dia ainda nem clareou e Fernanda Maria da Silva, de 39 anos, já está caminhando pelas ruas ainda vazias e escuras de Duque de Caxias, onde mora. Seu despertador toca às quatro em ponto. Ela logo se arruma, toma café e vai direto para o ponto de ônibus perto de sua casa. Às 5h20m, embarca em um trem na estação de Gramacho e divide espaço com outros milhares de trabalhadores que, assim como ela, levantam cedo, antes do alvorecer, para a labuta diária. Segue chacoalhando até a Central do Brasil. Lá, sobe novamente num ônibus e ruma para o Alto Leblon, onde trabalha como diarista três vezes por semana. A viagem de ida dura, em média, duas horas. Já a de volta é imprevisível. Depende dos congestionamentos de cada dia.

— A viagem é mais desgastante que o trabalho — afirma Fernanda Maria, com a voz cansada, após mais um dia de faxina, na última quarta-feira. — Se eu tivesse um emprego mais perto de casa seria melhor, mas o jeito é ir para lugares onde há dinheiro, não importa a distância.

Os deslocamentos casa-trabalho-casa da população estão sendo analisados por pesquisadores da Câmara Metropolitana, órgão do governo do estado responsável pela elaboração de um plano de desenvolvimento urbano para a metrópole, que deve ser enviado para aprovação na Assembleia Legislativa do Rio no segundo semestre deste ano. Dados obtidos pelo GLOBO mostram que a economia da Região Metropolitana do Rio é a que mais perde em todo o país por causa das longas viagens feitas por grande parte de seus trabalhadores. O custo do tempo que poderia ser investido em produtividade chegou a R$ 35,7 bilhões em 2014, segundo um levantamento feito pelo economista Guilherme Vianna, um dos técnicos do projeto. O valor corresponde a 8,1% do Produto Interno Bruto (PIB) da região.

Vianna considera que o tempo perdido no caminho das pessoas para o trabalho poderia ser convertido em renda. Para chegar aos números, ele utilizou a série histórica da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios, do IBGE, e comparou os dados do tempo médio das viagens e do valor médio da hora de trabalho da população empregada em cada uma das nove principais Regiões Metropolitanas do país.

Em termos percentuais, o PIB perdido com os deslocamentos na Região Metropolitana do Rio supera as perdas de Belém (6,6%), São Paulo (6,2%), Belo Horizonte (5,2%), Salvador (5,2%), Recife (4,6), Fortaleza (4,2%), Porto Alegre (4%) e Curitiba (4%). Numa escala nacional, o Brasil perde mais de R$ 232 bilhões, o que corresponde a 2,7% de seu PIB, segundo Vianna

— Durante toda a série histórica, o Rio de Janeiro, tirando poucos anos, é sempre o pior ou segundo pior no ranking. E o quadro vem se agravando. Se a pessoa demorasse menos no trânsito, talvez ela trabalhasse a mesma coisa e fosse gastar mais com lazer. Teria tanto o ganho de bem-estar, que pode ser convertido de alguma forma em renda, quanto poderia gastar com outras coisas ou até fazer um outro negócio para ganhar dinheiro. Acaba que são os mais pobres que sofrem com os deslocamentos, mas todo mundo é atingido — afirma o economista.

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