Startups investem em soluções para o transporte

04/06/2018 às 5:10 pm

Publicado em: Revista PEGN 

Excesso de veículos, congestionamento, transporte público lotado, custo alto de entregas de produtos, demora para chegar ao trabalho. Problemas relacionados à mobilidade urbana não faltam nas grandes cidades do Brasil e do mundo.

De acordo com o Instituto Smart City Business America (SCBA), que promove o avanço das discussões relacionadas às cidades inteligentes, os paulistanos gastam em média quase três horas do dia em deslocamentos pela cidade. Além disso, apenas 1% da população utiliza meios de transporte alternativos como bicicleta ou veículos elétricos para sua locomoção.

E, se existem dificuldades, existem oportunidades de negócios. Aplicativos como Uber, 99 e Waze são casos de sucesso relacionados ao tema, mas o empreendedor com soluções inovadoras tem um merca- do grande a ser explorado.

Na avaliação do consultor do Sebrae-SP Davi Paunovic, o cenário continua a ser de crescimento da população urbana de forma cada vez mais acelerada, com maior fluxo de pessoas em direção às cidades de grande porte em busca de emprego. Ao mesmo tempo, a estrutura urbana pública não consegue atender a todas as demandas do aumento populacional e não acompanha a transformação da mobilidade urbana.

Além disso, existe um fenômeno complicador: o crescimento das compras online e das entregas. “A ‘dor’ existe e as pessoas estão tentando resolver os problemas com o uso da tecnologia. É aí que surgem as oportunidades para as startups de mobilidade”, avalia Paunovic.

Foi sentindo a própria “dor” como usuários de transporte que os sócios Antonio Carlos Costa, Alexandre Santos e Bruno Milaré criaram a startup Fretadão. Quando eles trabalhavam na mesma empresa, se depararam com situações que dificultaram a contratação do ônibus fretado. Isso foi há quatro anos. “Enfrentamos dificuldade de contratar um ônibus porque os sites das companhias não tinham uma busca específica de endereço. Eu não conhecia a cidade e demorei para achar um fretado que me atendesse. Logo que contratei, acabei descobrindo outra opção mais próxima”, conta Costa.

A ideia inicial era montar uma plataforma para o usuário buscar a melhor opção de fretado por geolocalização e conseguir acompanhar o deslocamento do veículo em tempo real para administrar a ida ao ponto de ônibus. Com o tempo e ajuda de mentores, os sócios perceberam as dificuldades das em- presas: rotas desatualizadas, capacidade ociosa e concentração em regiões específicas.

Foi então que eles “pivotaram” o negócio, ou seja, foram testar novas hipóteses até ocorrer uma “virada” no negócio para atender ao público empresarial. Hoje, além de ajudar a pessoa física a encontrar o fretado, a startup cria uma roteirização adequada para atender a empresas da mesma região, para que os funcionários possam compartilhar veículos e reduzir custos.

“Vamos até as empresas, analisamos a lista de funcionários, endereços e horários, e utilizamos um software próprio para promover o compartilhamento de empresas da região e gerar uma redução de 30% a 40% de custos para a empresa”, explica Costa. Atualmente, o Fretadão atende a 450 pessoas por mês, gerenciando 20 linhas, além de vender assentos em 250 veículos. A expectativa é fechar o ano com 1,5 mil passageiros transportados mensalmente pela plataforma.

Entregas 

A própria “dor” também serviu de inspiração para o empreendedor Patrick Rocha criar a dLieve, que oferece um software de gestão logística para solucionar a falta de informação em tempo real para transportadoras, e-commerces, distribuidoras e empresas de delivery que precisam saber a posição exata do veículo.

A partir do smartphone do motorista, é possível fazer uma otimização de rotas e ter a informação em tempo real. “As informações são importantes não só para o gestor da transportadora, mas para o cliente final, que compra pela internet e precisa saber o horário de chegada da mercadoria”, afirma Rocha, que trabalhou no setor e se uniu com pessoas da área de tecnologia para desenvolver a solução. Atualmente, a dLieve tem oito funcionários e 20 clientes, de pequenas a grandes empresas. “Estamos no mercado há dois anos e ele está cada vez mais aquecido”, destaca.

Para o vice-presidente do Instituto Smart City e head da Kick Ventures, Rodrigo Quinalha, empreender em um negócio voltado à mobilidade urbana, como aluguel de bicicletas ou aplicativos, pode se tornar um investimento rentável, mas ainda é preciso evoluir na eficiência e oferecer um serviço ou produto que realmente faça diferença. “É uma nova era que, sem dúvida, vai priorizar que o transporte não seja só efetivo, mas também eficiente. A economia compartilhada, juntamente com novos aplicativos e startups vão ajudar muito para resolver o problema da mobilidade dentro de um contexto muito positivo”, avalia.

Dentro do contexto da economia compartilhada, o empreendedor Eric Hess resolveu investir no mercado de locação de carros com a criação da Easycar. A plataforma possibilita o compartilhamento de veículos: qualquer pessoa pode cadastrar seu carro para outras alugarem. “De um lado, estão pessoas que buscam uma renda extra. De outro, um usuário que busca um aluguel de carro mais barato e menos burocrático que uma locadora tradicional”, explica.

A Easycar foi criada no começo do ano e está em fase de validação no Startup SP, programa de desenvolvimento de startups, em Sorocaba. “Estou bastante animado. É complicado porque envolve um negócio de alto risco, que são os bens de outras pessoas. Mas a negociação envolve o seguro. E a economia compartilhada é baseada na confiança mútua, você ajuda e conecta pessoas para negociar suas necessidades”, diz.

Para Paunovic, consultor do Sebrae-SP, as startups têm o desafio de se conectar com parceiros que podem ajudar no desenvolvimento. A recomendação é se aproximar de uma indústria ou varejo e até mesmo prefeituras. “A mobilidade não é um problema tão simples. A dica é se aproximar de atores que sofrem da dor, como prefeituras e empresas, como também se conectar com o cliente final, entender sua rotina, a jornada, quais funcionalidades posso buscar. O foco é para as startups se conectarem mais”, destaca.

Em números

No Brasil, existem cerca de 66 milhões de veículos dos mais diversos tipos: leves, ônibus, caminhões e motocicletas.

Do total, 41,2 milhões são automóveis (62,65%)

7 milhões são comerciais leves (10,67%)

2 milhões são caminhões (3,09%)

376,5 mil são ônibus (0,57%)

15,1 milhões são motocicletas (23,01%)

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