Todos os dias 1 avião cai no Brasil

20/06/2016 às 2:11 pm

Quando assistimos ou lemos reportagens sobre o acidente de ônibus ocorrido em São Paulo no último dia 8, que deixou 18 pessoas mortas, sendo 17 delas estudantes universitários, naturalmente nos impressionamos. Entretanto, é nas imagens posteriores sobre o enterro das vítimas que percebemos o impacto humano do acidente. Seja pela transmissão da emoção dos familiares ou pelo número de pessoas que compareceram à cerimônia, mesmo sem terem ligação com qualquer um dos envolvidos no acidente.

São centenas de pessoas reunidas, emocionadas e inconformadas com a perda de vidas que poderiam ser evitadas. É nesse momento, ao ver a multidão que dá adeus a uma dezena de vítimas fatais, que constatamos que a morte no trânsito é frequente e afeta muito mais gente do que aparece nas estatísticas e nos noticiários. Muitos pais ficam órfãos de filhos, esposas de maridos, irmãos de irmãs, filhos de pais.

Os mais de 40 mil mortos e 500 mil feridos(*) registrados a cada ano nos acidentes de trânsito no Brasil, são suficientes para ocupar a capacidade de 3.375 aviões tipo Boeing 737-800 com vítimas, ou, usando outra comparação, a queda de 1 dessas aeronaves por dia de vítimas fatais. Quantos aviões ainda seriam necessários para transportar todos os familiares e amigos das vítimas para a cerimônia do adeus? E apesar disso, ainda não percebemos a dimensão e a gravidade da violência no trânsito. Por quê?

Em primeiro lugar, porque nos impressionamos com as manchetes, com o extraordinário. A soma das vidas perdidas por dia, espalhadas por todo território nacional, não despertam nossa atenção. Talvez se tivéssemos um painel na porta dos aeroportos mais importantes do país informando quantos aviões seriam necessários por dia para transportar mortos e feridos no trânsito, seus familiares e amigos, talvez assim entendêssemos a importância de combater essa violência injustificada e evitável com recursos que a tecnologia e a educação nos oferecem. Mas para isso é preciso entender que não estamos falando de números, mas de gente, com nome e sobrenome e uma história brutalmente alterada e definitivamente interrompida.

 

(*) Os feridos registrados pelo DPVAT são os que receberam indenização por invalidez permanente, portanto, com consequências graves que podem persistir por décadas. Quando a vítima morre o drama  é imediato e as sequelas ficam no coração dos familiares mas quando o indivíduo fica inválido, dependendo do grau de invalidez, o sofrimento é permanente.

 

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