Trânsito. Histórias Inacabadas

16/11/2020 às 4:18 pm

 

Quando se fala em compromisso de estado com a segurança no trânsito e a proteção da vida de cidadãos nas ruas e estradas do mundo a primeira lembrança que nos vem à mente é a Suécia por sua longa tradição e exemplos frequentes de boas práticas. Espanha, França, Alemanha, Estados Unidos e Russia – até recentemente parceira do Brasil no ranking mundial de mortes no trânsito –   também merecem destaque. Mas, pessoalmente, sempre gostei muito do trabalho da TAC (Transport Accident Comission) uma espécie de CENIPA (órgão brasileiro ligado à Força Aérea) e DPVAT que investiga nos detalhes todo e qualquer acidente aéreo no país. É um organismo governamental modelar do governo do estado de Vitoria na Austrália, cujo papel é promover a segurança no trânsito e apoiar vítimas da violência rodoviária e ajudando-os a recuperarem-se, não só financeiramente como, principalmente, psicológica e socialmente. A entidade é financiada por uma parcela da taxa anual do registro dos veículos da frota no estado, equivalente ao que pagamos aqui no Brasil para a emissão do Certificado de Registro e Licenciamento Veicular (CRLV). Esses recursos são utilizados no financiamento da estrutura e ação da TAC r também no pagamento do tratamento das vítimas do transporte terrestre envolvendo pedestres, ciclistas, motociclistas, ocupantes de veículos de passeio, de transporte de carga e passageiros, além de veículos sobre trilhos.

Na prevenção de colisões, atropelamentos e outras ocorrências terrestres a TAC trabalha em estreita colaboração com a polícia estadual e com o Departamento de Justiça Federal, desenvolvendo campanhas permanentes de conscientização sobre as questões de segurança no trânsito que, comprovadamente, mudaram o comportamento na sociedade e reduziram significativamente a incidência de traumas rodoviários. Os custos econômicos e sociais associados ao trauma nas vias de circulação de Vitória, tratados adequadamente nas ações e na comunicação da TAC, tornaram a questão da segurança no trânsito uma grande preocupação para a comunidade. O número de vidas perdidas a cada ano em Victoria é menos do que um terço do que foi registrado em 1989, ano do início de suas atividades. A redução da frequência e da gravidade das ocorrências atualmente não só salva vidas como evita ferimentos graves proporcionando economia para a toda a comunidade vitoriana.

A TAC é um órgão poderoso, autônomo, competente e dotado de recursos materiais e humanos de qualidade que lhe permite fazer um bom trabalho. Além de ações práticas e permanentes que reduziram drasticamente os números de ocorrências trágicas nas ruas e estradas de Vitória e de dar o necessário suporte às vítimas, o que sempre me encantou nessa organização foram as campanhas de conscientização e sensibilização desenvolvidas ao longo de toda a sua existência.  Não só pela qualidade na produção de suas peças de comunicação mas, também, pela contundência temática, abordando sem subterfúgios e censura as razões e consequências das perdas de vidas e das sequelas provocadas pelo trânsito no estado. Há peças que são simbólicas e romperam os limites do próprio país. São vídeos vistos por milhões de pessoas em todo o mundo e que são exaustivamente reproduzidos por quem, de fato, tem compromisso com a vida no trânsito. Um exemplo? O filme de celebração dos 20 anos de ações da TAC (Veja clicando AQUI), com o título Everybody Hurts (todo mundo se machuca) título da música tema da campanha interpretada pela banda R.E.M, que traz uma colagem das campanhas dos 20 anos da TAC que trataram do uso e consumo de álcool e drogas por quem vai dirigir.

Agora, quando se comemorou o 25º ano da instituição do DIA MUNDIAL EM MEMÓRIA DAS VÍTIMAS DE TRÂNSITO, celebrado em todo o mundo no último dia 15 de novembro, a TAC lança a campanha LEFT UNFINISHED (em tradução livre, DEIXOU INACABADA), onde são exibidos objetos pessoais que pertenciam a sete cidadãos vitorianos cujas vidas foram tragicamente perdidas ou transformadas para sempre em função de uma ocorrência trágica no trânsito. Cada pertence exibido representa um capítulo de um livro que nunca será escrito ou uma vida encurtada e, em última análise, uma história que ficou definitivamente inacabada. Esta exposição interativa é uma homenagem a esses indivíduos e um lembrete para todos os vitorianos –  e, porque não todos os cidadãos do mundo, incluindo nós, brasileiros – para nunca negligenciarmos a segurança e a proteção quando no trânsito, seja como condutor, passageiro ou pedestre.

Veja a nova campanha clicando AQUI. O Brasil precisa e o cidadão brasileiro merece uma TAC Nacional.

Fernando Pedrosa – Especialista em Prevenção e Segurança no Trânsito e sócio fundador da TRÂNSITOAMIGO

 

 

 

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