Veículos autônomos: Uma saída para a segurança veicular?

08/05/2020 às 4:36 pm

Carros voadores já podem ser desenvolvidos e fabricados, mas ainda representam um sonho utópico pela inviabilidade de sua disseminada utilização pela absoluta impossibilidade de estabelecer mapas e rotas aéreas individuais para milhões de veículos.

Mas, os veículos autônomos, que já estão em testes e com uso limitado, sim — tem futuro promissor. Em momentos como o que estamos vivendo, eles podem ser até um grande aliado da saúde pública.

Um relatório feito pelo Barcelona Institute for Global Health – ISGlobal – analisou dezenas de estudos sobre veículos autônomos para saber quais são os potenciais riscos e benefícios desta tecnologia. E descobriu que o seu uso pode ser muito positivo para a sociedade.

Veículo autônomo é aquele que dispõe de um sistema eletrônico de direção independente e automatizado, valendo-se da mais alta tecnologia automotiva. A autonomia dos veículos em circulação no mercado é classificada em uma escala de seis níveis, começando no zero (quando o motorista executa todas as tarefas operacionais) até o nível cinco (um veículo totalmente autônomo e automatizado). Em tese, a utilização de um veículo controlado sem a interferência humana reduziria o volume de acidentes provocados por falhas humanas. Essa hipótese tem como referência no relatório do ISGlobal um levantamento feito em 2017 nos EUA onde 94% de todos os acidentes graves envolveram fatores relacionados ao motorista, como distração, cansaço, uso de álcool e drogas e manobras em alta velocidade ou ilegais.

O estudo norte americano estimou que se 90% dos carros fossem totalmente autônomos, cerca de 25 mil vidas poderiam ter sido salvas anualmente, com economia estimadas em mais de US$ 200 bilhões por ano. É claro que o estudo é uma hipótese consistente, mas não uma realidade factual. Já foram registrados acidentes fatais com carros autônomos. Em 2018, uma pessoa morreu atropelada por um veículo da Tesla, mas o condutor teria ignorado advertências visuais e sonoras emitidas pelo sistema para que assumisse a direção do veículo.

De qualquer forma, há um caminho longo a percorrer. Globalmente, a violência do trânsito é uma das principais causas de mortalidade no planeta, com mais de 1,3 milhão de vítimas fatais anuais. Quase 90% delas concentradas no rol de países de baixa e média renda, onde o Brasil se situa.

O relatório também cita outro estudo que diz que a experiência de dirigir é potencialmente prejudicial para saúde, sugerindo que a condução veicular por longas horas sem interrupção provoca estresse, fadiga e causa impactos negativos nos sistemas imunológico, cardiovascular e nervoso. Fenômenos muito frequentes nos profissionais de transporte de carga e de passageiros, já identificados por médicos especialistas. Essa pressão social e econômica acaba por levar alguns desses profissionais ao uso de drogas psicoativas que viciam, matam e destroem famílias.

No Brasil, inclusive, o excesso de jornadas e de direção contínua sob efeitos de substâncias estimulantes como anfetaminas e, principalmente, cocaína, por motoristas profissionais levou à edição de uma lei regulamentadora em 2015 que, entre outras medidas, passou a exigir desses profissionais o exame toxicológico de larga janela de detecção que identifica, com precisão científica, os hábitos de consumo por pelo menos 90 dias anteriores à coleta do material analisado. Essa medida permitiu, em apenas 2 anos, ver a curva da acidentalidade com veículos pesados nas rodovias federais decrescer.

Uma das conclusões do relatório do instituto espanhol é que um veículo autônomo provavelmente diminuiria a carga de trabalho mental a que os motoristas são submetidos durante suas viagens. Oferecendo assim benefícios não só para a segurança no trânsito mas, também, para a saúde pública.

Pesquisas mostram que, em 2020, 5% das vendas de carros serão de veículos autônomos e que o número pode aumentar para 40% até 2030, deixando claro que é preciso pensar agora em como aproveitar esta tecnologia da melhor maneira. Tanto no campo da saúde pública quanto na segurança veicular.

“Fernando Pedrosa é especialista em prevenção e segurança no trânsito e diretor do ITTS”

Fonte: UOL

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