27/11/2020 às 2:25 pm

Que lição fica para a sociedade após a terrível tragédia que ceifou a vida de 41 pessoas em uma rodovia do estado de São Paulo?

O fato – A colisão entre uma carreta e um ônibus fretado para transporte de trabalhadores sem autorização da autoridade rodoviária, ocorreu no quilômetro 172 da Rodovia Alfredo de Oliveira Carvalho, na manhã de quarta-feira, dia 25 de novembro. A bordo do ônibus, cerca de 50 trabalhadores de uma empresa têxtil instalada em Taguaí/SP faziam a sua viagem diária de ida de casa (moradores das cidades de Itaí e Taquarituba) para o trabalho. Por volta de 7 horas da manhã, em função de causas não ainda não completamente esclarecidas, o ônibus colidiu frontalmente com uma carreta matando 41 pessoas, entre elas o condutor inabilitado da carreta e 40 passageiros do ônibus. O motorista do ônibus, que fazia mais uma viagem irregular e ultrapassava outro veículo (segundo testemunhas) sobreviveu e alegou falha mecânica que o impediu de usar os freios. Circunstância a ser confirmada pela perícia. Mas um fato inegável, constatado pela violência das imagens divulgadas, é o excesso de velocidade que ambos os veículos imprimiam quando se deu a colisão.

O motorista da carreta que recebeu o impacto do ônibus não era habilitado para categoria específica e, por isso, levava outro condutor. Esse sim habilitado na categoria D, que sobreviveu com leves escoriações. A tragédia aconteceu em uma curva da Rodovia que tem pista simples e onde a Polícia Rodoviária do Estado de São Paulo registra acidentes frequentes.

Consequências – Em casos como esses, com consequências dramáticas, atitudes sérias e imediatas precisam ser tomadas. Não só aquelas relativas a adequada apuração do que aconteceu com a imediata e severa punição de seus responsáveis. Mas, também, com o estabelecimento definitivo de medidas de prevenção e compliance que se revelam, a cada tragédia, indispensáveis. Este acidente não foi uma fatalidade, como quase nenhum outro é. Também não é um simples resultado de falha mecânica ou deficiência da pista. É fruto de um erro sistêmico e, com certeza, com elevado peso do comportamento humano (omisso, negligente, imprudente ou temerário) que destruiu dezenas de famílias, afetou o dia-a-dia em duas cidades do estado de São Paulo e entrou para a história triste do cotidiano trágico do trânsito brasileiro, como recorde de mortes em um único acidente.

Está mais do que na hora de usar todos os recursos disponíveis – principalmente os tecnológicos – para impedir essas mortes evitáveis. A imensa maioria das ocorrências nas ruas e estradas de qualquer país podem ser prevenidos. Há disponíveis dispositivos e práticas que combinam serviços de geolocalização com câmeras, sensores embarcados, dispositivos conectados ao veículo que permitem garantir, em tempo real, a conformidade das viagens às normas legais. No campo comportamental, além da fiscalização – sempre aleatória e ocasional – há como exigir melhor qualificação desses profissionais, com cursos periódicos e com a aplicação dos exames de saúde – em especial o toxicológico – que impeçam situações de extremo risco como a direção em estado de fadiga e, pior, sob os efeitos de substâncias psicoativas que ampliam artificial e perigosamente a capacidade do ser humano de suportar longas jornadas sem o necessário descanso.

Lição – Enfim, respondendo à pergunta inicial desse artigo, afirmamos que  VIDAS NO TRÂNSITO IMPORTAM. Principalmente as dos inocentes, vítimas que são de tanta imprudência no asfalto e que carecem de muito mais atenção das autoridades.

Fernando Pedrosa – Especialista em Prevenção e Segurança no Trânsito e ex coordenador do PARE – Programa de Redução de Acidentes no Trânsito do extinto Ministério dos Transportes

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