Covid 19 e o mundo sobre duas rodas

12/06/2020 às 10:38 am

Legisladores, autoridades, condutores e até a indústria têm condições de contribuir para que o uso de motocicletas deixe de ser problema e passem a ser uma boa solução urbana. Elas ocupam pouco espaço nas vias, são fáceis de estacionar e podem cumprir a velocidade compatível com a fluência requerida no trânsito urbano, garantindo maior fluidez nos deslocamentos.

Com a incorporação de novas tecnologias de controle da emissão de gases, já não poluem como no passado e permitem maior proteção aos seus usuários com vestimentas próprias que também reduzem o incômodo do frio e até da chuva. Com custo de venda e de manutenção adequados à renda média baixa do brasileiro, as motos sempre foram objeto de desejo e de superação das grandes dificuldades nas comunidades mais pobres. Para completar, o mercado fabricante de veículos vive o fenômeno do aperfeiçoamento tecnológico com a paulatina introdução dos sistemas elétricos, menos poluente e silenciosos.

Motocicletas são também muito inseguras quando utilizadas incorretamente por condutores audaciosos que não tiveram educação de trânsito. Desconhecem regras de compartilhamento do espaço, abusam da velocidade, portam-se como delinquentes e não são reprimidos adequadamente. Mas nada muito diferente do que vemos nas ruas e estradas do país com veículos de passeio e até os de transportes coletivo de passageiros e de cargas. Na verdade, o problema não é o veículo em si, mas sim quem está usando o capacete ou quem está no comando da direção e com os pés nos pedais. Na análise de cada uma das centenas de milhares ocorrências de trânsito registradas todos os anos no Brasil é fácil perceber que boa parte dos problemas reside na qualificação e na atenção do motorista.

A tolerância com a falta de civilidade, prima-irmã da corrupção do guarda da esquina, imprimiu para as motos no Brasil e em outros países do terceiro mundo, o rótulo de risco à segurança pública e ao tráfego. Ao longo do tempo, consolidou-se a imagem como a de uma categoria menor entre os usuários da malha urbana, no limbo da legislação e da organização viária reconhecia – equivocadamente – como um problema. Jamais como uma solução.

Em tempos de quarentena, isolamento social e fechamento do comércio os motociclistas se multiplicaram como heróis da pizza quente, das encomendas pela internet e das remessas dos documentos e, consequentemente, como vítimas mais comuns da imprudência. Própria, ou de terceiros. O comportamento dos motoboys, como são popularmente conhecidos, nada tem a ver com o tipo de veículo e sim com o reconhecimento e a atenção que a atividade deve ter por parte da sociedade e, principalmente das autoridades de trânsito. Admite-se, por exemplo, o serviço de mototáxi em muitas localidades, sem qualquer regulamentação, fiscalização ou critério, o que é praticamente uma condenação adicional dos que têm menos recursos a um mundo de insegurança.

Talvez tenha chegado a hora de aprofundar essa discussão e analisar como, no novo mundo que emergirá da pandemia, o preconceito possa se diluir para que as motocicletas passem a ser alternativa respeitada, incentivada e bem organizadas no conjunto de meios de transporte.

 

Fonte: Veja (Adaptação de artigo de Marcos E. Gomes 11/06/2020)

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